Mesmo com a maior atuação do Banco Central (BC) no mercado de câmbio ontem, o dólar voltou a subir em relação ao real e renovou sua maior cotação em nove anos, enquanto são aguardados os nomes da equipe econômica no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff (PT). O dólar à vista, referência no mercado financeiro, teve ligeira alta de 0,2%, para R$ 2,604 na venda. Com isso, renovou seu maior valor desde 18 de abril de 2005, quando valia R$ 2,619. Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, fechou praticamente estável, com leve avanço de 0,11%, para R$ 2,603 - também a maior cotação desde 18 de abril de 2005, quando estava em R$ 2,608.
Ontem, o BC reforçou as intervenções no mercado de câmbio. A instituição aumentou de 9 mil para 14 mil a oferta diária de contratos de swap cambial nas operações de rolagem dos papéis que vencem em 1º de dezembro de 2014. Esses leilões têm sobre o mercado de câmbio efeito similar ao da venda de dólares. Ou seja, ajudam a segurar as cotações.
O economista chefe da Austin Rating, Alex Agostini, disse que essas intervenções do BC no mercado de câmbio podem minimizar a alta do dólar, mas dificilmente vão conseguir fazer com que essa trajetória de alta volte para baixo. No entanto, se o BC não agir há a tendência da moeda subir ainda mais. "As intervenções ajudam o dólar a não subir com tanta voracidade", afirmou. Agostini explicou que esta é uma ferramenta que pode ser usada sempre pelo Banco Central, a qualquer momento, mas, em geral, é utilizada em períodos emergenciais.
Ontem, o mercado financeiro elevou pela terceira vez a estimativa de fechamento da taxa de câmbio para 2014. No boletim Focus, divulgado pelo BC, analistas e investidores estimaram que a moeda americana encerrará o ano valendo R$ 2,53.
Segundo Agostini, o aumento do dólar é ruim para quem importa, para quem pretende viajar ao exterior e para as indústrias que trazem matéria-prima de outros países. É positivo para os exportadores e para os turistas estrangeiros que vêm visitar o Brasil. "Toda a sociedade perde com alta do dólar", opinou. Ele observou ainda que um período de aumento prolongado da moeda pode afetar os preços ao consumidor.
O economista da Austin disse que o comportamento do dólar vai depender de até onde vai a crise na Petrobras e até que ponto vai contaminar a percepção dos investidores em relação ao mercado de capitais no Brasil. A variação da moeda também está na dependência de quanto devem subir os juros nos Estados Unidos, o que deve fazer os investidores irem para o mercado americano.
Análise
Para o professor do curso de Economia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), Carlos Magno Bittencourt, a indefinição sobre o nome do novo ministro da Fazenda que deve substituir Guido Mantega, também vem provocando a oscilação no valor da moeda.
Para ele, com as intervenções o "BC mostra o poder de fogo que tem". Bittencourt acredita que este tipo de ação ajuda a cotação a não subir tanto. "É um instrumento da política monetária do governo para ser usada nessas situações", frisou. Segundo ele, o governo trabalha com oferta e demanda do dólar em momentos de crise. Para que não haja elevação da moeda, coloca mais dólar no mercado através destas intervenções.
Na operação de ontem, o BC estendeu o vencimento de 9.700 papéis de 1º de dezembro para 4 de janeiro de 2016. Outros 4.300 contratos tiveram prazo estendido a 3 de março de 2015. No total, foram movimentados US$ 680,2 milhões.
Ontem, o BC também deu continuidade ao seu programa de intervenções diárias no câmbio, através do leilão de 4 mil novos contratos de swap cambial, pelo total de US$ 197,4 milhões. Desses papéis, 3 mil têm vencimento para 1º de junho de 2015 e outros 1 mil possuem prazo para 2 de setembro do ano que vem. (Com agências)